SOBRE LIVROS DENTRO DE LIVROS – SONO

Fonte: Saraiva


Escrito por Haruki Murakami, Sono narra a história de uma mulher que, grosso modo, perdeu a necessidade de dormir. O pano de fundo é o Japão contemporâneo e a vida familiar tradicional, com pai, mãe e filho(a) único(a). O fato de a protagonista não precisar dormir não é exatamente um fato inusitado em sua vida, ela já havia passado por tal fenômeno em seu tempo de faculdade, entretanto com uma intensidade um pouco menor.
Ela leva uma vida típica de dona de casa, cuida do esposo e do filho e no seu tempo livre costuma ler e nadar. Nada de novo sob o sol até que o sono simplesmente não chega, então ela passa a ler livros a noite. O livro massivamente indicado dentro de Sono é Anna Karenina, que a protagonista, formada em letras, leu mais de uma vez. Ao fim da história, já se passaram dezessete dias desde a última vez que dormiu e dá a entender que esse tempo só aumentará.
Sono não foi uma leitura marcante e nem me levou a uma compreensão profunda e transcendental do mundo, talvez por pura ignorância de minha parte ou pelo fato de que o livro não foi escrito para esses fins (não conheço a vibe do Murakami, Sono foi o meu primeiro contato com o material dele). A leitura me fez crer que esse “mundo desperto” em que a protagonista passou a viver está relacionado com a quebra de um encanto reforçado pela vida monótona. A partir do momento em que ela percebe a rotina fechada que tem e o emaranhado de futilidades cotidianas em que está envolvida, metaforicamente, ela não dorme mais. O mundo passa a ser sentido de um modo diferente. Ao invés de levar a vida dia após dia, ela passa a viver de fato. Ela não rompe a estrutura da própria rotina, mas percebe-a e passa a ter a sensação de controle sobre a própria realidade. A forma como o livro foi escrito projeta a imagem de que ela está sozinha nesse novo mundo, que ninguém além dela percebe a teia.
Observação 1: Essa edição tem uma arte incrível entre os capítulos, feitas por Kat Menschik.
Observação 2: A imagem da moça lembra muito a da capa de uma das edições de Neuromancer, primeiro livro da Trilogia do Sprawl, quase a obra sagrada do mundo cyberpunk, além de ser claramente uma inspiração para Matrix. Isso tem um puta cheiro de referência.
Observação3: Para quem tem interesse em um material atípico, Sono é uma boa dica, mas para quem prefere um enredo longo, extremamente detalhado e consistente, talvez seja melhor reduzir as expectativas..


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