SOBRE COTAS


Hoje, 03/12/2018, assisti a uma entrevista da Rádio Jovem Pan, Morning Show. O tema foi “Cotas raciais, justas ou injustas?” e os convidados foram Adriana Moreira e Fernando Holiday, ambos negros. O que se pode destacar é que as posições contrárias dos entrevistados provocaram o sentimento de dúvida e reflexão. Adriana, militante, acredita ser essa uma forma de justiça, enquanto que Holiday, hoje vereador, acredita ser uma medida injusta.
Negar a existência de preconceito racial é um ato quase criminoso. É omitir, ignorar, ridicularizar o sofrimento de 8,2% da população. Essa atitude de ressentimento e injustiça das pessoas contrárias ao sistema de cotas nada mais é que preconceito travestido de vitimização.
Mas esse comportamento lança um questionamento. Por que existem pessoas contrárias àquilo que é socialmente justo? Bem, anos atrás discordei dessa medida porque as cotas, na minha visão, tinham uma aura de privilégio e também segregação. E sobre o privilégio, é como muitos veem até hoje. Seja por falta de alguém que explique ou por pura resignação, as pessoas que são contra esse sistema acusam-no de seleção injusta. “Vão pegar a vaga de quem estudou mais”, eles dizem.
Eu sei que é assim porque cri nisso por muito tempo, mas depois de pesquisar, entender o motivo da medida, decidi que eu não poderia dizer não, que eu não poderia ser favorável à perpetuação de uma cultura que só prejudica o menos favorecido.
A luta é legítima sim, assim como é totalmente legítimo rechaçar alguém que a utiliza por puro oportunismo. E era aqui que eu queria chegar. Até quando, para dirimir quaisquer conflitos, poderemos invocar a carta da dívida histórica? Pelo valor histórico do sofrimento negro, tal dívida deverá ser eterna? Deverá ser transformada em cláusula pétrea na mais extrema das hipóteses?
Bem, embora eu entenda que a história não deve ser apagada, acredito que a dívida histórica é plenamente sanável. Mas como?
O primeiro passo, do meu humilde ponto de vista, é inverter a pirâmide do investimento na educação, uma ideia que vem sendo propagada com muita ênfase desde as eleições, e tem se mostrado uma solução cada vez mais óbvia para muitos dos problemas do país. Investir poderosamente no ensino básico público, isto é, fundamental e médio, trará, aos poucos, equilíbrio no sistema educacional/social. Quando o aluno negro e pobre puder competir em pé de igualdade com o branco de classe média, então as cotas sofrerão gradual obsolescência.
Isso significa que as cotas deixarão de existir? Talvez sim, talvez não. Pode acontecer de as cotas raciais se unirem às cotas sociais, passando a vigorar somente o critério socioeconômico, pode ser que um dia nenhuma delas exista, pode ser que esse processo de transição leve décadas, quem pode predizer?
No mais, nos restam a luta engajada e a fé de que tudo, algum dia, será justo e melhor.

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